Contracepção começa a ser cobrada também de homens

Fernando Marsicano 16 de Agosto de 2021

Decisão

Denise Rocha, 30, sentiu que o namorado reprovou sua escolha

Apesar de parecer uma decisão muito simples, deixar de tomar anticoncepcionais tem implicações que vão muito além dos efeitos sobre o corpo. Um deles pode se manifestar no relacionamento que a mulher tem com seu parceiro.

Nos grupos de Facebook dedicados à troca de informações sobre a contracepção não hormonal, não são raros os relatos de mulheres cujos maridos ou namorados “não aceitam” que elas parem de tomar o medicamento. No caso da assessora de comunicação Denise Rocha, 30, não houve uma pressão explícita, mas ela sentiu a reprovação do ex-namorado.

“Quando a gente fala em ‘pressão’, as pessoas acham que é uma coisa violenta, agressiva. Mas não é assim. Ele não me disse ‘não faça isso’ com todas as letras. Mas parecia que, ao cuidar da minha saúde, eu o estava prejudicando de alguma forma”, relata. A falta de apoio e de colaboração acabou afastando o casal, até que eles terminaram o namoro.

Apesar do descontentamento masculino, a psicóloga Marisa Sanabria, membro da Comissão de Mulheres e Questões de Gênero do Conselho Regional de Psicologia, avalia de forma muito positiva esse passo das mulheres na direção de se tornarem cada vez mais donas de seus corpos. “Acho que estamos no caminho de avançar para uma autonomia de saúde, de bem estar, da possibilidade de decidir o que faz sentido para você e o que não faz e até de como vamos querer envelhecer”, aponta.

Mas, por mais que seja uma escolha das mulheres, ela afeta diretamente os homens. “Cuidar da saúde nesse caso tem desdobramentos com relação ao outro. Isso pede que o parceiro se posicione de alguma forma”, reflete.

Por cerca de 60 anos, a pílula foi a mais segura opção para as mulheres terem controle sobre sua fertilidade. Mas o cenário mudou muito nessas seis décadas, a tecnologia dos contraceptivos masculinos evoluiu, e hoje os homens podem se corresponsabilizar pelo planejamento familiar.

“A visão de que a concepção é um assunto exclusivamente feminino vem mudando, pois as responsabilidades relacionadas a esse tópico têm sido mais discutidas, inclusive em nível internacional. Isso porque o aumento da população mundial, que afeta a todos, aparece como preocupação da sociedade. Consequentemente, homens têm se tornado mais conscientes da importância de assumir seu papel, e prova disso é o aumento do número de vasectomias realizadas”, aponta o urologista Fernando Marsicano, que é membro da equipe de urologia do Hospital LifeCenter. 

Segundo dados do SUS, entre 2001 e 2011, o número passou de 7.700 cirurgias realizadas para 34 mil, um aumento de 300%. Isso sem contar os procedimentos privados.

Escolha pode pôr relação em xeque

A renúncia dos hormônios sintéticos têm entre suas consequências um maior conhecimento da mulher sobre seu corpo. Saber mais sobre seu ciclo menstrual natural, sobre seu humor, seu organismo. Muitas vezes, ela passa a conhecer melhor até seu parceiro, como aconteceu com a assessora de comunicação Denise Rocha, 30. Apesar de não ter falado muito a respeito, seu ex-namorado foi claramente contrário à decisão. “De repente, em vez de aumentar a cumplicidade, isso me transformou em uma pessoa pouco confiável. Foi um filtro inesperado”, comenta.

De acordo com a psicóloga Marisa Sanabria, a mudança terá, sim, impactos sobre o relacionamento. “Antes, as mulheres tinham que resolver sozinhas a questão da contracepção, e todos os desdobramentos eram para ela. Quando a mulher exclui essa possibilidade dos hormônios, ela abre uma porta para que a responsabilidade seja a dois. É um movimento interessante”, afirma.

Quando há uma cumplicidade entre as partes e o homem assume a responsabilidade do planejamento familiar de igual para igual, o casal pode ficar mais unido ainda. É o momento de entender as fraquezas e as dúvidas do outro. Mas a falta de parceria também pode ser, de certa forma, interessante. “É um grande momento para trazer a relação à tona. Se isso (dividir a responsabilidade) não é possível, tenho que me perguntar quem é o meu parceiro e se é ao lado dessa pessoa que eu quero estar, se é esse tipo de relação que quero ter”, pondera.


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