Medo de ir ao urologista por causa do exame de próstata?

Fernando Marsicano 29 de Outubro de 2025

Se o toque retal é o que tem te afastado do consultório, respira: hoje, ele não é mais o protagonista da detecção precoce do câncer de próstata. A minha prática apoiada em diretrizes de referência e nos maiores estudos, coloca o PSA (exame de sangue) como porta de entrada e a ressonância magnética multiparamétrica (RM mp) como aliada para decidir quem realmente precisa de biópsia. O toque continua útil em situações específicas (exame físico, suspeita de doença avançada e estadiamento clínico), mas não é o “teste de triagem” principal.

 

O que mudou e por que isso importa

Há 30–40 anos, muitos tumores eram descobertos tardiamente, frequentemente com endurecimento palpável ao toque. Com a chegada do PSA nos anos 80/90, passamos a identificar tumores menores e mais cedo: o teste obteve aprovação regulatória para monitorar a doença em 1986 e, depois, como auxílio à detecção precoce nos anos 1990. Isso transformou a abordagem do rastreamento em todo o mundo.

Nas últimas décadas, a RM multiparamétrica deu outro salto de qualidade: em estudos robustos, ela aumenta a chance de encontrar cânceres clinicamente significativos e reduz biópsias desnecessárias quando usada antes da biópsia. Na prática, deixamos de “biopsiar às cegas” para mirar lesões suspeitas.

 

A minha opinião (e como eu conduzo)

PSA primeiro, com conversa franca sobre seus riscos e benefícios (decisão compartilhada). Isso está alinhado à AUA/SUO (EUA) e à USPSTF, que coloca a decisão individual como eixo entre 55–69 anos e não recomenda rastreamento rotineiro acima de 70.

Ressonância mp quando há suspeita (PSA alterado e contexto clínico). As Diretrizes Europeias (EAU 2025) recomendam fazer RM antes da biópsia e aderir ao PI-RADS para padronizar qualidade e interpretação.

Biópsia dirigida por RM, preferencialmente, quando existe alvo; isso aumenta a detecção de tumores relevantes e reduz a de tumores indolentes.

Toque retal entra quando faz diferença: exame físico, suspeita de doença avançada, estadiamento clínico não como teste de rastreio isolado.

 

Evidências que dão “peso” a essa estratégia

PROMIS (Lancet, 2017): para câncer clinicamente significativo, a RM mp foi mais sensível (~93%) que a biópsia sistemática guiada por ultrassom (~48%). Resultado prático: menos falsos negativos e melhor seleção de quem biopsiar.

PRECISION (NEJM, 2018): RM antes da biópsia + biópsia direcionada detectou mais câncer significativo e menos insignificante do que a biópsia padrão.

STHLM3-MRI (NEJM, 2021): em “triagem por convite”, a estratégia com RM manteve a detecção de tumores significativos e reduziu overdiagnosis.

Qualidade técnica: o PI-RADS v2.1 (ACR/ESUR) padroniza aquisição/interpretação da RM; centros com 3 Tesla costumam ter melhor relação sinal-ruído, mas 1,5T bem protocolado também funciona — o essencial é seguir PI-RADS.

 

“Mas, doutor, e se eu ainda tiver medo do toque?”

Eu respeito esse medo — é real. O que eu te garanto é que podemos começar pelo PSA e avaliar se faz sentido a RM. O toque não é obrigatório como primeira etapa de rastreio. Se, pelo seu caso, o toque puder mudar a conduta, eu explico antes, mostro por que e como ele será feito, sempre com respeito e gentileza. (Essa lógica está alinhada às diretrizes que priorizam PSA + decisão compartilhada e indicam RM antes da biópsia quando há suspeita.)

 

E no Brasil?

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomenda avaliação individualizada: em geral, iniciar a conversa a partir dos 50 anos (ou 45 se você tem maior risco, como história familiar ou for homem negro). O próprio Ministério da Saúde reforça a importância de discutir riscos e benefícios do rastreamento — decisão conjunta, sem imposição.

 

Passo a passo no meu consultório

Perfil de risco e preferências (idade, família, saúde geral).

PSA (e repetição/validação quando necessário).

RM mp se houver suspeita após PSA/risco.

Biópsia dirigida se a RM mostrar alvo — idealmente com técnica atualizada.

Conduta sob medida: vigilância ativa para baixo risco; tratamento (cirurgia/rádio) quando indicado.

Observação: quando a cirurgia é a melhor opção, a cirurgia robótica oferece precisão e visão ampliada, com potencial de menor sangramento e recuperação mais rápida em casos bem selecionados e sempre discutindo benefícios e riscos individualmente.

 

O que levar daqui

Não deixe o medo do toque te afastar. Podemos começar pelo PSA.

Ressonância ajuda a evitar biópsias desnecessárias e acertar o alvo quando precisa biopsiar.

Toque continua útil, mas não é o “exame de entrada” para todos.

A melhor decisão é pessoal e compartilhada — com ciência e respeito.

 

Se você tem 45–50+ anos, histórico familiar ou simplesmente quer cuidar bem da sua saúde, agende sua consulta comigo, Dr. Fernando Marsicano. Eu explico tudo com calma, começamos pelo PSA, avaliamos se a ressonância faz sentido e decidimos juntos o melhor caminho para você.

 

Este conteúdo é informativo e não substitui uma consulta médica.


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